— Roberto deseja vê-lo — anunciou Inezita, antiga empregada da família, sem parar de olhar a massa que estendia sobre o mármore da pia.
— Obrigada, Inezita, você é terceira a me transmitir o recado — respondeu Armando, irônico.
A empregada deu de ombros, prosseguiu em sua tarefa e perguntou:
— Se é assim, por que não veio antes? Teria evitado tanto aborrecimento.
— Inezita, tenho mil coisas para fazer! Por acaso sabe o que o papai está inventando desta vez?
— Não faço a menor ideia.
— Droga! — ele esbravejou. — Obrigado pela boa vontade; acho melhor ir logo ver do que se trata.
— Já devia ter ido.
Armando fuzilou-a com o olhar e dirigiu-se à porta.
— Considere-se despedida — gritou por sobre o ombro e a ouviu gargalhar antes que a porta se fechasse. Costumava despedi-la umas três vezes por semana, mas nunca fora além da ameaça; Inezita era considerada como da família.
Armando cruzou o corredor, batendo com força as botas de cowboy no assoalho, deixando claro que não estava de bom humor. O gado seria vacinado naquele dia, e ele gostaria de acompanhar o serviço de perto. O assunto que Roberto julgava tão importante, poderia perfeitamente ter esperado até a hora do jantar.
Ao cruzar a porta do escritório, encontrou o pai sentado na poltrona giratória, com os pés na mesa, atirando bolinhas de papel no cesto de lixo.
— Puxa, corri tanto quando soube que você tinha me chamado! O que quer que eu faça: apanhe as bolinhas que já jogou no lixo?
Roberto fitou-o, imperturbável:
— Ora, para que tanto mau humor? Desse jeito você logo vai envelhecer. Vamos — disse, apontando para uma cadeira —, sente-se e relaxe um pouco.
Enquanto Armando se sentava, um tanto relutante, uma das bolinhas passou a poucos centímetros da sua cabeça.
— Ei! Calma aí! Se me chamou aqui para lhe servir de alvo, sugiro que vá chamar Inezita. Tenho coisas mais importantes para fazer.
— Inezita não relutaria em atirá-las de volta em mim — comentou, bem-humorado, endireitando-se na cadeira para apoiar os cotovelos sobre a mesa. Então, fitou o filho com ares de determinação.
Armando reconheceu o olhar e já sabia que seria contemplado com mais uma das brilhantes ideias do pai, ou seja: ele ia pedir-lhe que fizesse algo que Armando, com certeza, não ia gostar e tentaria de todo jeito recusar.
— Filho, acho que já é hora de você se estabelecer na vida.
Retesando todos os músculos, Armando endireitou-se na cadeira.
— Eu me estabelecer? Como assim?
Roberto assentiu:
— Casando-se, formando uma família. Conheço a mulher ideal para você.
— Ah, é? — Armando indagou, com um sorriso torto. — Engraçado, isso não me surpreende.
— Que bom, meu filho — garantiu Roberto descontente com o sarcasmo do filho. — Na minha opinião, o melhor que você tem a fazer é casar-se com Beatriz.
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